acma1953

registro: 03/01/2011
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Amar ou adorar? qual a diferença

Li algures num blog sobre amor uma tese que entronca naquilo que também penso. Em boa verdade existe uma diferença, e achei interessante. Adorar e amar são dois sentimentos maravilhosos mas, sem dúvida, distintos. Todos (ou quase todos) nós temos um propósito firme e intangível na nossa vida: amar alguém com todas as nossas forças.

Nós pensamos sobre isso e desejamos fervorosamente pelo simples facto de pensarmos que realizar estes objectivos nos conduz à felicidade. Creio não estar errado ao pensar que o apego saudável é indispensável para explorar o nosso mundo.

No entanto, por diversas razões, acabamos confundindo o adorar com o amar e vice-versa. Como consequência desta confusão, enchemos a nossa mochila emocional de “eu te adoro” falsos e de “eu te amo” vazios."

Lembrei-me de um livro que li há muitos anos atrás, "O Pequeno Príncipe" de Antoine Saint Exupéry.

Essa obra notável que li com imensa sofreguidão, contém uma passagem para ilustrar esta ideia, e que lança luz sobre a realidade emocional poderosa que afecta quase todas as pessoas num momento ou outro da vida. Parte desse diálogo era assim:

"—Eu te amo —disse o Pequeno Príncipe.
Eu também te adoro —respondeu a rosa.
Mas não é a mesma coisa —respondeu ele, e logo continuou— Adorar é tomar posse de algo, de alguém. É buscar nos outros o que preenche as expectativas pessoais de afecto, de companhia. Adorar é fazer nosso aquilo que não nos pertence, é apropriar-se ou desejar algo para nos completar, porque em algum momento reconhecemos que estamos carentes."

Adorar é esperar, apegar-se às coisas e às pessoas a partir das nossas necessidades. Então, quando não temos reciprocidade, existe sofrimento. Quando o “bem” adorado não nos corresponde, sentimos frustração e decepção.

Se eu adoro alguém, tenho expectativas e espero algo. Se a outra pessoa não me dá o que eu espero, eu sofro. O problema é que há uma maior probabilidade de que a outra pessoa tenha outras motivações, pois somos todos muito diferentes. Cada ser humano é um universo.

Continuando a citar Saint Exupéry:

"Amar é desejar o melhor para o outro, mesmo quando as duas pessoas têm motivações bem diferentes. Amar é permitir que você seja feliz, quando o seu caminho é diferente do meu. É um sentimento altruísta que nasce ao se entregar, é se dar por completo a partir do coração. Por isso, o amor nunca será causa de sofrimento. Quando uma pessoa diz que já sofreu por amor, na verdade ela sofreu por adorar, não por amar. As pessoas sofrem pelo apego. Se alguém ama realmente, não pode sofrer, pois não espera nada do outro. Quando amamos, nos entregamos sem pedir nada em troca, pelo simples e puro prazer de dar. Mas também é certo que essa entrega, este “se entregar” altruísta, só acontece no conhecimento.

Só podemos amar o que conhecemos, porque amar envolve saltar para o vazio, confiar a vida e a alma. E a alma não se indemniza. E conhecer a si mesmo é justamente saber de si, das suas alegrias, da sua paz, mas também das suas raivas, das suas lutas, dos seus erros. Porque o amor transcende a raiva, o erro, e não é só para momentos de alegria.

Amar é a confiança plena de que aconteça o que acontecer, você vai estar presente, não porque você me deva alguma coisa, não por uma posse egoísta, e sim só por estar, em uma companhia silenciosa. Amar é saber que o tempo, as tempestades e os meus invernos não mudam.

Amar é dar-lhe um lugar no meu coração para que você fique como parceiro, pai, mãe, irmão, filho, amigo, e saber que no seu há um lugar para mim. Dar amor não esgota o amor, pelo contrário, o aumenta. A maneira de retribuir tanto amor é abrir o coração e deixar-se ser amado."

—Agora entendo —contestou ela depois de uma longa pausa.
—É melhor viver isso —aconselhou-lhe o Pequeno Príncipe.

Saint Exupéri

Adorei reler este livro n2.119.gif

https://www.youtube.com/watch?v=dJcG7SIghw4