O cancelamento, popularizado pela expressão “cultura do cancelamento”, remete a uma forma de linchamento virtual que pretende difamar, arruinar, ostracizar o alvo “cancelado”. Em um contexto virtual, os cancelamentos se manifestam como uma espécie de “avalanche” de comentários — ordenados, inflamados, simplórios — sobre determinado assunto ou sobre alguém. Nesse balaio, vemos a busca por justiça confundir-se com um ímpeto justiceiro. Esse novo tipo de lacre não legitima a correspondência “selada”, mas condena-a mesmo antes de ser aberta.
Basta uma fagulha taxativa para começar o incêndio. Aí, não sobra espaço para dúvidas. Já sabemos quem está ou não do lado da verdade. É a morte do diálogo e das nuances. A morte dos “mas” e dos “porém”. Troca-se o “e” pelo “ou”.
Todos esperam, no quarto de despejo da internet, o que Antônio Prata chamou de obituário dos cancelados. O rótulo é fatal. O mundo se divide entre lacradores e lacrados.
O combustível? Aqueles que aplaudem cegamente o espetáculo mudo.
O show acabou, que venha o próximo. Uma espécie de comportamento que visa pregar listas infindáveis de pessoas emudecidas na praça da cidade, sentenciadas ao apedrejamento moderno que é o cancelamento.
IImpostor
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