IsabelCris

 
registro: 28/03/2010
Un cuore che cerca, sente bene che qualcosa gli manca; Ma un cuore che ha perduto, sa di che cosa è stato privato."
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Último jogo

*** Nem todo livro oferece sonho ***



"Mais tarde, naquele mesmo dia, enquanto Rashid continuava tentando sintonizar o rádio, Mariam estava preparando 
arroz com espinafre na cozinha. 
Lembrava de uma época em que gostava de cozinhar para o marido, aguardando, na maior expectativa, a hora das 
refeições. Agora, aquilo era apenas uma tarefa que a deixava ansiosíssima. Seus qurmas estavam sempre salgados 
demais ou insossos demais para o gosto de Rashid. O arroz, muito gorduroso ou muito seco, o pão, mole demais ou 
tostado demais. Essa mania que ele tinha de achar defeito em tudo a deixava paralisada na cozinha, inteiramente 
insegura (...)".

"Rashid fez um bolinho de arroz com a mão. Botou aquilo na boca, mastigou, mastigou e, depois, com uma careta, 
cuspiu tudo na sofrah.
 — O que houve? — perguntou Mariam, odiando o tom de lamento da própria voz. Podia sentir sua pulsação se 
acelerando, sua pele se contraindo.
 — O que houve? — repetiu ele, como um miado, imitando-a. — O que houve e que você fez besteira novamente.
 — Mas deixei ferver por mais cinco minutos que o habitual.
 — Isso e uma mentira deslavada!
 — Juro... 
Rashid sacudiu o resto de comida das mãos e afastou o prato, derrubando molho e arroz na sofrah. Mariam o viu se 
levantar como uma bala, sair da sala, sair da casa batendo a porta. Ajoelhou-se no chão e tentou catar os grãos de arroz 
para botá-los de volta no prato, mas suas mãos tremiam tanto que precisou esperar que o tremor melhorasse. O medo 
lhe apertava o peito. Tentou respirar fundo algumas vezes. Viu o seu rosto pálido refletido na vidraça e desviou os olhos. 
Depois, ouviu a porta da frente se abrindo e Rashid voltando para a sala.
 — Levante daí — disse ele. — Levante-se e venha cá. 
Então, ele agarrou a sua mão, abriu-a e depositou ali um punhado de pedrinhas.
 — Ponha isso na boca. 
— O quê?
 — Ponha... isso... na... boca. 
— Pare, Rashid. Eu... 
Com aquelas mãos vigorosas, ele agarrou o seu rosto. Meteu dois dedos em sua boca, obrigando-a a abri-la, e enfiou 
ali aquelas pedrinhas duras e frias. Mariam tentou lutar contra aquilo, mas ele continuou a enfiar as pedrinhas em sua 
boca com o lábio superior erguido num sorriso de desdém.
 — Agora, mastigue — disse ele. 
Com a boca cheia de pedras e terra, Mariam tentou balbuciar uma súplica. As lágrimas lhe escorriam pelo canto dos 
olhos.
— MASTIGUE! — berrou ele, e aquele hálito de cigarro atingiu em cheio o seu rosto. 
E ela mastigou. Lá no fundo de sua boca, alguma coisa estalou.
 — Ótimo — disse Rashid. Suas mandíbulas tremiam. — Agora você sabe o gosto do arroz que faz. Agora sabe o que 
tem me dado nesse casamento. Comida ruim, e nada mais.
 E foi embora deixando Mariam cuspindo pedras, sangue e pedaços de dois molares quebrados".